A internet hoje em dia é controlada por ragebait, e isso tem arruinado o discurso político
Para os que não sabem, ragebait é quando um usuário de internet escreve algo controverso, falso, estúpido ou incendiário a respeito de determinado assunto, com a intenção de deixar as pessoas que se importam com este assunto indignadas, de modo que elas respondem à sua postagem, gerando engajamento.
Essa tática é tão antiga quanto a própria internet mas conforme a internet foi se concentrando em algumas grandes mídias sociais (Facebook, Twitter, etc), de modo que ficou fácil compartilhar uma mesma postagem diretamente para potencialmente milhões de usuários, e a concentração de "normies" (Usuários de internet não muito familiarizados com este meio), que não entendem o que é ragebait foi aumentando, essa tática se tornou onipresente no mundo online e, portanto, no discurso público como um todo.
Exemplo não falta: Andressa Urach anunciando todo o tipo de conteúdo bizarro, Felipe Neto fazendo algum tweet idiota, Disney ou a Ubisoft colocando alguma "lacração" no seu próximo filme ou jogo só para gerar discussão, dentre outros. O que você percebe nestes casos é que os autores fazem ou dizem algo intelectual ou moralmente questionável, pelo menos para algum grupo social, que então vai na postagem, compartilha ela, e forma todo um círculo de pessoas criado em torno de dizer que aquela postagem é estúpida (Estou olhando para você, r/OpiniaoBurra), cujos membros participam ativamente, pois lhes dá uma oportunidade de expor a sua suposta superioridade.
No entanto, é justamente isso que o autor da postagem quer: Que venha uma multidão de pessoas interagir com o conteúdo por que, mesmo que eles estejam interagindo negativamente, eles estão dando engajamento para a postagem, que passa a ser vista por mais pessoas, criando um ciclo vicioso, de modo que o autor consegue a sua tão desejada atenção, que então o autor pode utilizar da maneira como quiser.
Isso por si só já é preocupante, pois resulta em um discurso online menos autêntico e mais tóxico, porém durante a última década o ragebait têm se estendido ao debate político, o que têm tido consequências desastrosas.
O Jair Bolsonaro foi o exemplo vivo disso aqui no Brasil. Ele aparecia em entrevistas ou fazia publicações no Facebook, falava algum absurdo, e então a Esquerda fazia um escarcéu, fazendo mil e um vídeos chamando ele de machista, racista, homofóbico (O que muitas vezes era de fato o caso). O que a esquerda não entendia era que o público-alvo do Jair Bolsonaro não eram as pessoas preocupadas com machismo ou racismo, e que colocar o Bolsonaro no centro da campanha eleitoral (Que foi o que o #EleNão acabou fazendo) só serviu para dar maior visibilidade para a campanha DELE, permitindo que ele mais facilmente acessasse o seu real público-alvo: Pessoas de centro, (que não se importam tanto com pauta ideológica desde que o preço da comida não suba muito) e pessoas conservadoras, que concordavam com muito do que o "mito" falava.
Além disso, o ragebait permite que o autor oriente a discussão. Quando teve aquela controvérsia sobre o PIX no início deste ano os governistas fizeram coro dizendo que "O PIX não será taxado", o que não era a crítica real feita pela oposição naquele momento, pois eles tinham se fixados em uma fake news que não era mais relevante, de modo que eles foram incapazes de propriamente responder aos argumentos da oposição, permitindo talvez o maior desastre de comunicação do Lula 3.0.
Por isso, eu peço que quando você estiver na internet, ver uma postagem que lhe pareça absurda e sentir vontade de responder, respire um pouco, conte até dez, e se pergunte caso realmente vale a pena interagir com a postagem. Eu não estou dizendo que você deveria ignorar os horrores que muitas vezes aparecem nas redes sociais ("A única coisa necessária para o triunfo do mal é que os homens bons não façam nada" - Edmund Burke), o que eu estou dizendo é que você deveria se focar menos em responder àquilo que outras pessoas disseram, e focar mais naquilo que você mesmo tem a dizer. Ragebait é um jogo em que o último a jogar sempre perde.